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conversas na vouga


- "aqui nestas terras está enterrado um sino de oiro."

- "um sino? então porquê? não há aqui igreja, nem tão pouco capela."

a paisagem verdejante do rio vouga, no inicio do seu percurso, é pano de fundo à conversa. na zona vivem apenas meia duzia de habitantes, guardados por cães de pastor. junto ao Rio Vouga um moinho em ruinas. (veja imagem)

- "eram 11 as campas dos mouros, um grande cemitério. tinha de haver aqui uma capela, e com ela um sino. isto é o que dizem; eu não sei! sempre ouvi dizer isso."
- "11?"
talvez mais que os habitantes que lá hoje vivem.
(...)
fomos ver as terras, já com centeio plantado e chega uma senhora.
-"o que andam a fazer? isso tem aí centeio plantado. vocês são de onde?"
-"olhe que não vimos roubar. andamos à procura de coisas antigas."
e perdi-me na conversa...
- "a senhora ainda faz pão? aqui nesta zona é costume ser de centeio não é?"
- "é de centeio sim, mas também tem trigo e milho, é conforme! e faço-o com a farinha que moí."
arregalei os olhos...
- "e há quem venda dessa farinha?"
- "há pois! mas se quiser eu dou-lhe um alqueire, mas tem de cá vir daqui a um mês, que é quando vou moer."

(...)
as pessoas,especialmente os mais velhos, têm um papel muito importante na identificação de património arqueológico, mas as conversas vão sempre para além disso. sempre fomos recebidos de coração aberto; contam-nos histórias dos antigos e pedem desculpa por não poderem ajudar mais. contam também das suas vidas e preocupações.
será esta abertura por se sentirem valorizados? por haver interesse na sua memória? será por se sentirem orgulhosos de haver quem valorize a sua terra e o seu passado?

5 comentários:

Ana Eugenio disse...

está um blog catita, sim senhora ;)

Unknown disse...

obrigada Ana! aparece mais vezes.. beijos

Alexandre disse...

será por se sentirem sozinhos?

Unknown disse...

acredito que sim alexandre... de facto sente-se isso. até porque as ruas estão vazias de gente. mas penso que vai para além disso. há que dar valor ao conhecimento dos mais velhos e isso não foi esquecido pela conferência das Naçoes Unidas em 1992 "Their ability to participate fully in sustainable development practices on their lands has tended to be limited as a result of factors of an economic, social and historical nature. In view of the interrelationship between the natural environment and its sustainable development and the cultural, social, economic and physical well-being of indigenous people, national and international efforts to implement environmentally sound and sustainable development should recognize, accommodate, promote and strengthen the role of indigenous people and their communities... Recognition of their values, traditional knowledge and resource management practices with a view to promoting environmentally sound and sustainable development" (http://www.un.org/esa/sustdev/documents/agenda21/english/agenda21chapter26.htm)
por outro lado penso que quando falam do seu património lembram-se da sua infância, das lendas que tanto mexiam com eles, dos moiros! penso que todos nós temos um pouco dessa nostalgia... sempre que se fala em arqueologia e coisas antigas puxa-se por esse sentimento... ou não terá o Alexandre ouvido tantas vezes o comentário: "ah tão giro! eu tanto queria ser arqueólogo quando era miudo." por vezes isso não joga ao favor do património, é certo... mas se devidamente valorizado, numa acção concertada, que inclua educação para o património, e que possa trazer mais gente aqueles lugares, talvez, talvez... não se sintam tao sozinhos (a merecer uma postagem de futuro)

Unknown disse...

o endereço saiu incompleto: http://www.un.org/esa/sustdev/documents/agenda21/english/agenda21chapter26.htm

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