Monumento megalítico na freguesia de Esmolfe, já foi vário o interesse que despertou a investigadores, não passando alheio ao imaginário popular e o uso comunitário que adquiriu recentemente.
Foi restaurada nos finais do Século XX, uma acção do município local. Discutiu-se e criticou-se, entre a comunidade cientifica, o género de restauro aplicado, uma vez que não é clara a diferença entre o elemento antigo e o novo. Um lado inteiro do corredor foi reposto com pedra nova, talhada à semelhança da que se encontrava ainda (confesso que a mim me custa distinguir o antigo do novo).
Um dos esteios que sustentam a tampa da cabeceira, foi consolidado com uma espécie de argamassa, já se encontra muito deteriorado pela má inclinação da tampa.
Mas o que mais me preocupa não são as experiências de restauro menos bem conseguidas. Reflectem apenas concepções de restauro e formas de interpretação científica. Todas as nossas acções são fruto das limitações normais do tempo em que vivemos e das tecnologias que temos disponíveis; também elas são elementos de uso da anta e farão parte da sua História.
O que mais me preocupa é a utilização que esta Anta tem hoje em dia.
O espaço encontra-se completamente abandonado e sujo.
Uma pequena placa explicativa facilmente esmoreceu pela acção da chuva e do sol. Durou poucos meses e foi a primeira a desaparecer.
O caixote do lixo teimava em estar cheio e a deitar para fora. Facilmente partiu-se parte da base e o lixo foi caindo ao chão.
As placas sinalizadoras, setas simples e singelas em madeira, começaram por resvalar, depois foram-se partindo e por fim desapareceram.
Há cerca de um ano atrás descobri que se usa o local (talvez apenas de vez em quando), para beber umas cervejolas e acender umas fogueiras.
Talvez, numa dessas noites ou dias, não sei, tenha chovido, e ter-se-ão acoitado debaixo da tampa da própria câmara poligonal, fazendo uma bela fogueira encostada a um dos esteios que sustentam a tampa. Mais um pouco e quase parece um fumeiro.
As fogueiras foram acesas em cima de unidades estratigráficas, camadas de terra que detêm ainda muita informação. A acção do fogo foi um elemento constante aquando da utilização inicial deste género de monumento. Passaram por uma fase de ritualização e consagração, que envolve todo o processo de construção, uso e selagem. Por este motivo as fogueiras em cima do monumento são altamente intrusivas e agravam significativamente a possibilidade de análise mais detalhada de sedimentos, registo e estudo por outras gerações de investigadores.
Pode-se pensar que não deixa de ser um elemento de uso. E imaginar que figurará nos livros de arqueologia das gerações futuras, como um mais, entre milhares de exemplos de património arqueológico, que se esgotou; vítima do conceito de progresso que vigorou durante a Época da Tecnologia do Petróleo. A Anta de Esmolfe será apenas mais um exemplo da banal destruição de um recurso que não era renovável: o Património Arqueológico!
Pode-se pensar que será elucidativo registo de uma tentativa falhada de divulgar património, demasiadamente focada no imediato, como um qualquer capricho, descontextualizada, fruto de meras vontades de uma economia de consumo.
E como a pensar morreu um burro, lanço o apelo!
Faz falta dar a conhecer o que foi aquele espaço.
Faz falta um equipamento onde pudéssemos conhecer umas e outras realidades que já vivemos, reconhecermos que já fomos diferentes, já tivemos outras vivências sociais, outras estratégias e economias, outras formas de explicar o mundo. E tudo isto sem termos de nos perder em labirintos e caminhos de terra batida, ao estilo aventura de destemidos, para depois acabar a cortar um pé numa lata de atum.
Faz falta saber porquê devemos proteger e valorizar aquele espaço.
Faz falta a informação do que foi esse espaço, pois só se dá valor ao que se conhece.
A placa explicativa faz falta, mas idilicamente ela nem devia ser precisa.
3 comentários:
o restauro foi feito mas nunca se dignificaram a fazer manutenção tanto do monumento como da área envolvente....e deu nisto, por isso continuo a salientar que apenas se devem escavar os sítios arqueológicos em perigo eminente ou integrados em projectos que tenham fundamento e viabilidade, com as devidas reticências.....Boa Ana, mais uma vez estiveste bem ao denunciar este tipo de atentados ao património.
não é com intuito de denunciar... procurei dar a conhecer apenas uma parte da própria história do monumento. talvez devesse fazer outra postagem com o intuito de o trazer à consciencia colectiva. perdoa-me se sou ingénua, mas acho que ninguém quis isto para o monumento. nem acredito, tao pouco, que as pessoas que atearam a fogueira, tivessem consciencia do que estavam a fazer...
beijo e obrigada pelo comentário
axo k tem toda a razao esao a estragar um monumento ao fazerem foqueiras e a estragar
ASSI:aluna do 7ºano
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