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Gente da Minha Terra

Sempre que volto a casa fico saudosista… a pensar nas pessoas da minha infância. Não apenas aquelas com quem contactei, mas aquelas de quem ouvia falar.
Cresci numa freguesia rural, com vários lugares, no interior da Beira Alta. Nos núcleos mais antigos as casas são em pedra, algumas ruas são medievais e muito próximas de uma possível Villa romana e outros habitats.







Hoje todos os lugares estão praticamente unidos por malha contínua de casas, muitas delas construídas nos anos 80, por emigrantes na Suiça, França e Alemanha, principalmente.


Na aldeia todos se conhecem e são uma comunidade muito próxima.
Muito se fazia em comunidade e era bem mais fácil distinguir as pessoas pela alcunha. Essas alcunhas referem-se não só ao individuo, mas à familia do mesmo e vão passando de geração em geração.


Com respeito apresento aqui os nomes, alguns são família, vizinhos, conhecidos… actores locais, pessoas que mantêm o interior vivo. É Gente da minha terra.

A Mikas Moleira e o ti António Moleiro

O Cereeiro

O Quero-Carne

O Peidinho

A Borrada

O Buraquinhas

O Caga-a-pino

A Pissotas

A Prejuíza

O Zé Maria Ligeiro

A Madalena do Moiro

Os doutores

O Verdugo

A do Lulu ou Lulua

A Mikas Miuda

A Tia Mikas canhota, mulher do canhoto

A Tia Mikas Caçoila

A Rasga-a-Saia

A Corre-e-Dança

O Mámiço

Ainda muitos cultivam a terra. Terra conhecida pelos pêssegos, pelo vinho e pelo pão. E mais não digo, porque poderia ser qualquer terra. Isto das alcunhas é uma característica sócio-cultural que tem o seu posto de antiguidade, um pouco por todo o país.


Fazem parte de um universo em que ainda vai resistindo, onde a vida em comunidade era tão natural como respirar:

- Existia alguém com quem se partilhava a água da poça;

- Outro que ajudava a prender a burra;

- Havia quem se rogasse para ir à feira ou para ir fazer a poda;

- Alguém para ajudar a encher os farinheiros;

- Outro que desse a lenha para deitar o lume às choiriças;

- Quem fizesse rezas ao céu aberto;

- Alguém que ajudasse a matar e a estripar os coelhos;

- Alguém que dava o fardo da palha para chamuscar o porco e queimar-lhe o pelo, na matança (…)



Esta realidade resiste, mas já está a perecer pela fuga para meios urbanos e pela "normalização" do consumo pelas massas, excessivamente regulamentado e impessoal.

Está-se a perder esta diversidade cultural e com ela esta a perder-se também a biodiversidade que dela resultava.

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