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diz-me onde fica o Castro de Santos Idos

-“olá! atão estás boa? olha tenho aqui umas pessoas que estão interessadas em ir ver o Castro de Santos Idos. diz-me como é que se vai para lá”
-“hum?”

-“estão aqui uns turistas franceses com um roteiro da região de turismo Dão-Lafões na mão. querem ir ao castelo romano de Santos Idos, diz-me onde é. É no Barro branco?”

-“eh pah… mas aquilo, aquilo não é fácil de dar. estás a ver aquela rua que segue para lá da cadeia? é para aí para baixo. mas olha, aquilo são caminhos cheios de mato… só se… espera, já sei! estás a ver a rua das traseiras da cadeia? há uns senhores de mais idade que vivem aí, eles sabem onde é e sabem a lenda do sino de oiro.”




-“mas estás a falar daquela rua que acaba em caminho de terra batida?”
“Sim mas olha que não imagines que tem lá muralhas ou coisa do género.”
-“ai não? mas aquilo vem no roteiro!”

“é um monte, cheio de mato. o dono daquilo morreu há poucos anos e está mais abandonado, está cheio de mato e podia ser um monte como outro qualquer! mas espera, são arqueólogos?”



“não! são turistas franceses… viram isso no livro de turismo que trazem e não falam português.”


O Castro de Santos Idos encontra-se Sul da vila de Sátão, num monte discreto entre outros mais altos, quase na base ocidental da Serra do Seixo Branco, com um domínio excelente sobre um pequeno vale abrupto da Ribeira do Sátão e sobre o sítio de Chão da Pedra já referido por nós aqui.



Lá encontramos uma longa plataforma ajudada a formar pelos socalcos (?). Ou será por muralha?







Os materiais cerâmicos que se encontram à superfície revelam uma ocupação humana muito interessante, muito provavelmente contínua, desde épocas proto-históricas até épocas medievais.



Os documentos escritos no papel existentes são apenas uma pequena dimensão do tempo; são escassos, esparsos.

Devemos então recorrer aos livros escritos no chão, folheando as camadas de terra, como se fossem páginas escritas pelo dia a dia de milénios. Apenas com um estudo aprofundado que integra muita consulta e escavação arqueológica criteriosa, possível em épocas mais secas e por isso continuada por vários anos, com análise e registo de dados, estudo de peças, contraposição de desenhos, como manda o “figurino”, poderíamos chegar a conclusões.
Nesta fase nada mais podemos, senão fazer perguntas:

---> O que leva à romanização desse possível povoado da Idade do Ferro? É mais comum encontrar assentamentos romanos em zonas mais abertas e de melhor acesso, mais próximas de vales férteis, de linhas de água. Por trazerem um estilo de vida novo, uma nova “ordem” administrativa, política e económica, uma nova realidade, geralmente, apostavam noutro género de assentamento.



---> Porque continuam a ocupar o mesmo espaço?
Ao manterem o mesmo espaço ao longo dos séculos terão mantido a mesma actividade económica? Qual? E em épocas declínio do império romano reorganizaram o espaço? Diminuíram-no ou aumentaram-no?





---> E nas guerras da reconquista, séculos depois? O Sátão teve Carta de Foral em 1111, justificada pela “arte de bem receber” Estaria aqui o núcleo urbano medieval onde viviam? Se não era o centro, as suas gentes não vieram para longe.



É de louvar a preocupação e atenção dos satenses, revista nesta funcionária municipal da conversa transcrita acima.



Seria de louvar se o Castro de Santos Idos tivesse também condição de receber o forasteiro que se interessa pelo Sátão. Era bom que o núcleo original que deu origem à vila, sede de concelho, fosse esse livro aberto…

Não se entende o que leva a região de turismo, que faz estes roteiros turísticos, a colocar na rota estes montes aparentemente vazios de significado, pertencentes a particulares e sem qualquer sinalização. E se o turista conseguiu lá chegar, por ser um incauto aventureiro aliciado pelas fortificações da Idade do Ferro, deparou com um monte abandonado à vegetação e sem qualquer estrutura acima do solo que indique que chegou ao seu destino.

1 comentário:

Lisete Osório disse...

é de lamentar que se continuem a assinalar pontos de interesse turistico, quando não existem acessos minimos garantidos e nem sequer foram alvo de intervenção e identificação e interpretação dos pontos de interesse.
continua a divulgar historia e "contar histórias" e a fazer arqueologia

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