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Alqueva - mudança de paradigma na Arqueologia Portuguesa

Relata-nos Hugo Baptista, um nosso novo aGente de Património, a sua perspectiva sobre um conjunto de dados,  relativos às numerosas descobertas levadas a cabo por inúmeras equipas de arqueólogos e técnicos, decorrentes das obras para sistema de rega, da barragem do Alqueva e que foram apresentados no 4º colóquio de Arqueologia do Alqueva.

Muito obrigada ao nosso repórter, Hugo!!

"Entre os dias 24 e 26 de Fevereiro de 2010, a EDIA (Empresa de Desenvolvimento de Infra-estruturas do Aqueva) levou a cabo o 4º colóquio de Arqueologia.
Este ano contou com uma exposição temporária onde foram tornados públicos os materiais e resultados obtidos na escavação da necrópole da idade do Ferro, designada por vinha de caliças 4."
(...)


Enterramento no sítio de Vinha de Caliças 4 (Beringel)


Enterramento no sítio de Vinha de Caliças 4 (Beringel)

"O colóquio contou com a participação de inúmeros profissionais da área, muitos dos quais se encontram a trabalhar nas diversas infra-estruturas, actualmente em curso, bem como os demais investigadores que se deslocaram a Beja, para assistir de perto, este ponto de situação dos trabalhos realizados.

Foram abordados sítios pela sua especificidade, excepcionalidade ou monumentalidade e que são representativos da ocupação deste espaço desde a Pré-História Recente, Proto-História, período romano e medieval islâmico e cristão.

A EDIA informou que, desde o inicio da construção da barragem, até á presente data, investiu 14 milhões de euros em intervenções arqueológicas, em mais de 900 ocorrências patrimoniais.

Estamos perante realidades arqueológicas inéditas ou pouco conhecidas, mas a verdade é que o período paleolítico é, ainda, o menos conhecido. Talvez porque é difícil reconhecer á superfície materiais com essas cronologias, ou talvez fruto da pouca preparação para estes contextos arqueológicos, mais sensíveis, imperceptíveis...em larga medida devido às constantes acções antrópicas na paisagem.
Destacamos a frequência com que são identificados sítios calcolíticos e da Idade do Bronze, os quais contribuirão, certamente, para preencher vazios de conhecimento.

Destacam-se particularmente alguns contextos funerários da 1a Idade do Ferro, que pela sua especificidade construtiva e espólio votivo, remetem-nos para contactos muito estreitos com a bacia do mediterrâneo. Estranho é o facto de não terem sido identificados os contextos habitacionais associados às necrópoles, salvo raras excepções de sítios romanos que revelaram uma ocupação prévia, na maioria dos casos apenas visível pela cerâmica.

Relativamente á pré-história recente, destacamos os resultados preliminares obtidos após a minimização no sítio calcolítico do Porto Torrão, em Ferreira do Alentejo. Trata-se do maior povoado conhecido deste período para o Sudoeste peninsular e os trabalhos revelaram inúmeros contextos que deverão ser estudados e publicados. "
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Vaso cerâmico de Porto Torrão
(Fotografia pela equipa responsável -  Neoépica, retirada da sua página no Facebook)


Pontas de seta - Porto Torrão
(Fotografia pela equipa responsável - Neoépica, retirada da sua página no Facebook)

 
"Destacamos a intervenção, ainda em curso, do sítio do Monte do Carrascal, em Ferreira do Alentejo. Trata-se de um contexto habitacional e funerário, que tem levantado inúmeras questões relacionadas com a arquitectura da morte, neste período. O sítio da Ponte da Azambuja 2 em Portel apresenta uma tipologia e contextos artefactuais semelhantes ao Porto Torrão, mas a uma escala menor.
O sítio da Torre Velha 3 em Serpa é digno de ser mencionado, assim como os trabalhos levados a cabo na empreitada do Pisão, em Beringel, concretamente nos sítios de Monte do Marquês 15 e Pedreira de Trigaches 2.

Para a Proto-História temos a destacar a intervenção efectuada na Vinha de Caliças 4, em Beringel, a qual revelou uma necrópole da idade do ferro, com 44 esqueletos exumados e alguns ossários. A sua arquitectura, composta por recintos quadrangulares, que delimitavam as sepulturas bem como o espólio recolhido, remete-nos para o mundo fenício e egípcio. Este terá mantido estreitas relações com o interior alentejano, conforme testemunha este arqueosítio. "
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Enterramento no sítio de Vinha de Caliças 4 (Beringel)

"O sítio do Poço da Gontinha, em Ferreira do Alentejo, revelou uma complexa realidade diacrónica composta por distintas tipologias de estruturas, desde época pré-histórica à época Moderna.
O sítio de Currais 5 em São Manços, além de revelar contextos calcolíticos, pôs a descoberto um forno relacionado com a produção cerâmica com paralelos regionais na Idade do Ferro.
Finalmente merece destaque, no leque de comunicações alusivas á Proto-História, o sítio de Entre Águas 5, em Serpa. Foram identificadas três grandes estruturas negativas em forma de 8, que poderão corresponder a estruturas habitacionais, e um conjunto de seis estruturas negativas de tipo fossa. Além do inúmero espólio cerâmico recolhido, destacam-se cadinhos para manufactura de bronze, moldes, algaravizes, restos de escoria, entre outros.

Do período romano a intervenção relacionada com os aproveitamentos hidráulicos na freguesia de São Manços é um excelente contributo para o estudo e reconhecimento destas estruturas e técnicas, mal conhecidas no nosso território.

A villa romana do Monte da Salsa, em Serpa, bastante mencionada na bibliografia, revelou um conjunto de estruturas que nos ajudam a compreender melhor a dinâmica desta importante villa, ao longo do período romano.

Outras villae romanas foram alvo de intervenções, concretamente a villa de Santa Maria, Insuinhas 2 e a Herdade dos Alfares em São Matias; bem como as necrópoles do Monte do outeiro em Cuba, a necrópole de Espicharrabo 3. Contribuíram assim para a análise global da ocupação romana no interior alentejano, e que de certa forma vêm complementar ou acrescentar aos demais trabalhos e resultados, que se têm vindo a desenvolver neste território, por diversos especialistas deste período.

Para o período de transição entre o romano e o período Islâmico temos o exemplo do sítio da Torre Velha 1 em Serpa. Trata-se de um importante centro de exploração agrícola e polarizador do território envolvente.

A necrópole de São Matias revelou 4 sepulturas orientadas a Oeste/Este e dois ossários. Foi recolhido um número pouco significativo de espólio funerário, à excepção de um jarro trilobado e um elemento de fíbula. Foram ainda exumados contextos habitacionais com lareiras e restos de fauna associados da época do Bronze.
O sítio da Xancra II em Cuba revelou 3 sepulturas da Idade do Ferro e seguidamente dois espaços distintos de enterramento, islâmico e cristão. Morfologicamente trata-se de sepulturas semelhantes, mas não se cruzam no espaço. Também não existe qualquer espólio associado, que permita atribuir cronologias. Da necrópole islâmica foram exumados 33 individuos."
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Apresentação do sítio arqueológico de Funchais 6 - Era, Arqueologia

"A Ribeira de São Domingos 1, em Brinches revelou igualmente sepulturas de cronologia islâmica, com orientação SO-NE, provável deposição em decúbito lateral e ausência de espólio. Finalmente, o sítio de Funchais 6 em Beringel que revelou um significativo conjunto de peças cerâmicas plenamente islâmicas, possivelmente atribuíveis aos finais do séc.X e séc.XI.

Foram abordados sítios, que pela sua especificidade, excepcionalidade ou monumentalidade são representativos da ocupação deste espaço desde a Pré-História Recente, Proto-História, período romano e medieval islâmico e cristão. Expusemos algumas das comunicações dos diversos períodos cronológicos como forma de evidenciar o importantíssimo manancial de informação que estes trabalhos possibilitaram e que têm implicado uma mudança de paradigma na arqueologia portuguesa, aportando novas perspectivas de actuação."


Texto e fotografias do sítio de vinhas das Caliças e do colóquio por Hugo Baptista.

Fotografias de Porto Torrão na página da Neoépica no Facebook.


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