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Os Moinhos da Ribeira de Coja



Em Rio de Moinhos, concelho de Sátão, a Ribeira de Coja corre para o Rio Dão. As suas margens são ainda recantos sossegados, povoados de bichos, alfaiates, peixes e cobras de água e outros que tais. Mas as águas estão sujas e baças e pouco reflectem o resplendor de outrora, apesar de ainda se manter tudo muito verde, dos calhaus estarem cobertos de líquenes e de se cheirar a mata cheia de vida.
Moinhos em ruínas já beberam energia das águas. Nos invernos as águas correm com força, mas os moinhos já não moem trigo, cultura menosprezada pelas mudanças dos tempos. Resta apenas um moleiro, mas ainda assim é saldo positivo se o colocarmos ao lado das andanças do mundo.
A relação Homem/Ribeira era outra. Havia afluência de gente e devia-se não só aos banhos refrescantes de verão. Além do lazer, e se recuarmos para tempos até 1950 e 60, ainda muitas das matas eram limpas para servir de lenha ao fogão, às lareiras da cozinha, para se poder deitar o lume ao enchido e para cozer o pão em grandes fornos de tijolo burro. Não fosse Rio de Moinhos uma terra de pão de trigo e milho, a saborosa trigamilha cozida em fornos comunitários, reduzidos no seu número, vencidos por novas tecnologias.

Hoje os caminhos que vão dar ao rio estão cheios de vegetação, apetecíveis pelo fogo, e apenas convidam os mais temerários.
Um espaço outrora mais ordenado, ironicamente numa época que não se conhecia a expressão Ordenamento do Território.

Que gestão mais sustentável para a ribeira?

Penso poder construir-se uma sustentabilidade tomando novo partido destes recursos, reaproveitando os moinhos decadentes, que tão validamente marcaram a história da nossa indústria, desde tempos medievais. Requalificar um património industrial que ainda povoa o imaginário simbólico dos mais velhos, aliando-o ao espirito e iniciativa dos mais novos, que ainda tem presente na sua memória o Portugal quase museu natural, retratado pelos documentários de Luísa Schmidt.
Conceber um espaço vivo, onde possa ser sentido o passado, o presente e o futuro, ao mesmo tempo e no mesmo sítio. Um espaço exemplo resultante da interacção harmoniosa do Homem com a Natureza. Quem sabe abri-lo a escolas, sensibilizando as gerações futuras para exemplos de perfeita articulação das diversas existências culturais, em harmonia com a paisagem.
Valorizar as tecnologias de ponta, características das preocupações globais, através, por exemplo, do fabrico de energia renovável ali mesmo, onde não lhe é inédito.
Trazer mais biodiversidade às margens do rio Coja, identificando os factores de poluição. Elevar a agricultura tradicional e local. (Re)Ordenar as margens do rio de forma a potenciarem a biodiversidade.
Edificar o centro interpretativo do moinho, em rede com outros equipamentos para além da ribeira: museus já existentes, património arquitectónico etc. Valorizando outros recursos que falaremos noutra Viagem no micro espaço.

Concertar esforços pelo turismo, sustentável, chamando gentes novas de todas as idades, públicos diversificados, potenciando um turismo de natureza, rural, patrimonial, cientifico etc. Criar equipamentos turísticos nas estruturas decadentes dos Moinhos; criar um conjunto de opções turísticas sustentáveis etc.

Porque não uma Zona Especial de Conservação, articulando a conservação da natureza com a salvaguarda modos de vida e padrões de comportamento?


Porque não um espaço comunitário, participado, onde as gentes possam integrar todo o processo de construção contínua, e ver e experimentar o seu resultado vivo?

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