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Senhora do Barrocal - Lugar Sagrado e Profano das Gentes da Romãs



"Numa capela singela e bonita, o culto é antigo e faz-se à Nossa Senhora das Candeias. Há uma campa escavada no penedo onde a Capela se ergue. A utilização destas campas escavadas na rocha para enterrar os mortos é um bom indicio da sacralidade antiga do local. No túmulo podemos ainda ver a forma da cabeça e dos ombros, escavadas na pedra, e se não estivesse metade dentro da capela, caberia lá uma pessoa deitada.









Cabeço à esquerda o Castelo do Barrocal
Pequena plataforma à direita, a Capela da Sr.ª das Candeias


Este ritual de enterrar os mortos está ligado a uma forma de viver a cristandade, que ainda escapa aos livros.
Também no Barrocal existe uma imponente fortificação, no cabeço podemos ver o que resta de uma muralha. Ali esteve gente numa idade mais longínqua, há cerca de 3000 anos atrás. Dois milénios depois terá tido um papel importante nas guerras de reconquista cristã. Terá existido no Barrocal um Castelo, que serviu de bastião nas guerras contra os Mouros. Encontramos “cacos” de potes e pratos, que mostram que ali houve gente a ocupar novamente o lugar há pelo menos 900 anos. Este cabeço elevado, cheio de calhaus de Granito, foi e é um local, de referência para as gentes do Carvalhal e de toda a freguesia da Romãs.

O caminho que levava os mortos do Carvalhal para a Romãs fazia-se por entre os penedios. As pessoas lembram-se de levar pelo monte acima a urna em marcha fúnebre até ao cemitério. Há quantos séculos o ritual de levar os mortos do Carvalhal para a Romãs se repetia? As pessoas contam da lembrança de vários cemitérios, uns ainda utilizados, outros aparecidos e desaparecidos debaixo do chão. Próximo do Soito de Gulfar, no sítio de S. Bento, ainda são vivas as memórias de ter aparecido um cemitério com mais de 11 campas escavadas na rocha. Não devemos esquecer que terão sido o local de repouso final apenas para os mais abastados.
Carvalhal da Romãs; lá no alto o Barrocal
Quantas gentes aqui já viveram?
Existe uma História para contar sobre estes locais e estes territórios, da qual todos nos orgulharemos. Esta História pode elucidar-nos sobre a forma como os homens e mulheres desta terra viveram e se adaptaram às mudanças e dificuldades da vida. A paisagem do Barrocal é imponente e espicaça a imaginação tanto dos mais velhos e como dos mais novos."
A sair na edição de Dezembro 08 do Jornal A Gazeta de Sátão.
Ana Maria Carvalho
(arqueóloga)

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